15 outubro 2012

Cenas da vida conjugal

Fui ao Teatro Nacional D.Maria II ver a peça “Cenas da Vida Conjugal”.
Confesso que no final da primeira parte o meu sentimento era de irritação. Sou uma romântica por natureza, gosto de acreditar em contos de fadas, em finais felizes, em ser feliz para sempre. Mesmo tendo a noção da realidade da vida, prefiro sempre acreditar na versão positiva. Esta peça mostra-nos a realidade pura e dura. Sei que aquilo é o espelho da vida de muitos casais e isso irrita-me e deixa-me triste. A diferença de comportamentos entre os homens e as mulheres ali representada é assustadora e infelizmente muitas vezes real.
Mas não vou estar a falar do homem ou da mulher, porque a peça fala da vida conjugal. Fala do desistir, do pôr em causa, do não resolver, do sofrimento, do mau estar, comportamentos esses que podem ser tanto do homem como da mulher. Mas este é um tema tão complexo de falar , pois cada caso é um caso. Podia falar sobre o caso da peça e na sua conclusão, mas não vou fazê-lo uma vez que a peça ainda está em cena.
Só posso dizer que é uma peça que põe as pessoas a pensarem, pois aquilo que pude observar, foram vários casais que ou saíam completamente de costas voltadas, a discutir, ou a rirem um com o outro. O que significa que se identificaram com alguma das situações e que isso os fez pensar, reflectir, mudar. Tenho que destacar a fabulosa interpretação da Margarida Marinho e do Adriano Luz. Dois excelentes actores que nos fazem esquecer que estamos a ver uma peça de teatro, nos levam para dentro da vida daqueles personagens, fazendo-nos sentir quase seus amigos e dando vontade de muitas vezes subir ao palco e dar conselhos! Dar opiniões, ajudar!
E o conselho que me apetecia dar era para não esquecerem o amor.Para não darem nada como garantido.Para valorizarem o que têm, o que os uniu. E quando a arte nos transporta da nossa realidade é porque é bem feita.
"Levei dois meses e meio a escrever estas cenas; mas levei uma vida inteira a vivê-las”, disse Ingmar Bergman acerca de Cenas da vida conjugal que inicialmente foram escritas para uma série de televisão e mais tarde adaptadas para o palco pelo próprio realizador. O texto de Bergman tornou-se rapidamente numa das mais poderosas e imponentes histórias do cinema, ao ser interpretado por atores como Liv Ullmann e Erland Josephson. Solveig Nordlund, que teve a oportunidade de passar um mês como bolseira na casa de Bergman para preparar este trabalho, traduz e encena estas cenas de um casamento aparentemente feliz, mas que esconde uma relação tempestuosa. João (Adriano Luz) e Mariana (Margarida Marinho) são casados há dez anos, têm duas filhas, uma vida confortável. Mas sofrem todas as dúvidas e incertezas que podem assombrar um casal. Para Bergman, João e Mariana representam o típico comportamento humano: eles permitem-se ser corajosos, felizes, tristes, zangados, apaixonados, confusos, infantis, insatisfeitos.
Bergman deixou marcos inesquecíveis na segunda metade do século XX, nomeadamente com Cenas da vida conjugal, em 1973, e, trinta anos depois, a sequela da vida conjugal com os mesmos atores, em Saraband. Um teste à problemática relação entre homens e mulheres, num mundo em que é preciso sobreviver às guerras do dia a dia. de Ingmar Bergman tradução e encenação Solveig Nordlund com Adriano Luz, Margarida Marinho e Paula Mora

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