23 abril 2013

A ver as Estrelas-Memórias de Frank Sinatra by Miguel Monteiro



Durante muitos anos, de Portugal Frank Sinatra apenas conheceu uma voz e um nome: Amália. 

Sinatra foi um dos mais notáveis nomes que a cantora portuguesa teve na sua imensa lista de admiradores. Se Cole Porter queria compôr para ela ou se Anthony Quinn a queria para protagonista da versão cinematográfica de “As Bodas de Sangue”, Frank Sinatra sempre viu em Amália uma mulher que pura e simplesmente tinha que ficar nos Estados Unidos e seguir uma carreira internacional.
Durante muitos anos, Sinatra não visitou Portugal. Apenas nos anos setenta passou brevemente por Lisboa e dele ficou célebre também por cá o seu mau feitio: fotografias do cantor nas ruas de Lisboa fazendo gestos obscenos ou caretas para a imprensa estão hoje guardadas na hemeroteca da capital em edições de vários jornais. Foi preciso esperar pelo dia 7 de Junho de 1992 para ver e ouvir Frank Sinatra ao vivo. 



O local escolhido foi o Estádio das Antas no Porto e eu, como bom devoto, lá fui, depois de meses a guardar dinheiro para poder comprar o bilhete de seis contos e fazer uma excursão à grande, de avião e com quarto num dos melhores hotéis da cidade. Nessa breve passagem, Sinatra esteve maravilhoso, embora a iluminada crítica lusa tenha zurzido contra a garrafa de Jack Daniels no palco e o recurso ao teleponto em algumas das suas mais magníficas canções. Como se o teleponto tivesse alguma importância, quando se está a ouvir ao vivo Frank Sinatra.
Apesar de ter dezenas de vips ávidos por uma fotografia com o cantor, Frank apenas tirou uma foto com Amália.
Esperei apenas três anos para ter o privilégio de reencontrar Francis Albert Sinatra. E as circunstâncias não poderiam ter sido as melhores: as celebrações oficiais dos seus 80 anos de vida. E se a América celebrou a data a rigor!


O Empire State Building de Nova Iorque ficou iluminado de azul em homenagem ao Ol’ Blue Eyes. Os autocarros transportaram letreiros com a frase "Happy Birthday Frank". As rádios passaram as melhores canções, as televisões transmitiram os melhores concertos e todos os filmes As cerimónias tiveram o seu ponto alto no dia 19 de Novembro de 1995 no Auditório Shrine de Los Angeles, com um espectáculo ao vivo na presença de seis mil convidados. 

Admiradores de todas as gerações: Anthony Quinn, Milton Berle, Connie Stevens, Charles Bronson, Raquel Welch, Johnny Depp e a sua namorada da altura, a modelo Kate Moss, Faye Dunaway…Mas a maior parte das estrelas presentes evitou a passadeira vermelha entrou pela porta dos bastidores. Foram os casos de Bob Dylan, Tony Bennett, Paula Abdul, Natalie Cole ou do próprio casal Barbara e Frank Sinatra. 

Os mais descontraidos eram Depp e Moss. Ele já era então era um nome de enorme sucesso no mundo do cinema e ela ainda guardava a aura de modelo exclusivo de Calvin Klein. Visivelmente irritados com proibição de fumar, refugiaram-se os dois junto aos poucos jornalistas que, no parque de estacionamento do Shrine, fumavam cigarro atrás de cigarro: Quando me pediram lume, Depp soltou um aliviado: “É europeu, não é? Só pode ser…”
O espectáculo começou à hora marcada, da forma mais simples possível. Bruce Springsteen entrou em palco depois da orquestra ter tocado algumas melodias imortalizadas por Sinatra, e disse apenas: "Minhas senhoras e meus senhores: este é o motivo por que nós estamos todos aqui, Mr. Frank Sinatra." E a casa quase foi abaixo, com uma gigantesca ovação.
No palco e nos bastidores não faltaram estrelas para homenagear "A Voz". Arnold Schwarzenneger estava emocionado: "Hoje podiam-me ter marcado qualquer festa, qualquer acontecimento, mas nada no mundo me afastaria desta homenagem a Sinatra. Quando eu era criança, na Áustria, as músicas e os filmes de Frank inspiravam-me, e muito contribuiram para hoje eu ser actor". 

Patrick Swayze, que junto com a mulher, Lisa Niemi, foi um dos apresentadores, esteve em sintonia com todos os depoimentos anteriores: "Sinatra inspirou-me. O meu sonho de miúdo era cantar tão bem como Sinatra e dançar como Fred Astaire e Gene Kelly". Mas Tony Bennett era o mais orgulhoso: "Deixa-me muito feliz saber que ele é o meu melhor amigo e que eu sou o maior amigo dele", disse na conferência de imprensa. E depois seguiu para o bar dos jornalistas, onde bebeu um café e distribuiu sorrisos, autógrafos e cumprimentos a quem por ele passava. 
Little Richard, as Salt-N-Peppa, Patti La Belle, Bono (via satélite da Irlanda) cantaram. Gregory Peck, Angela Lansbury, Robert Wagner entre tantos outros, trouxeram memórias da carreira de Sinatra no cinema.
Duas horas e meia depois do início, todos os participantes juntaram-se para cantar o inevitável "New York, New York". E o próprio Frank Sinatra subiu ao palco para cantar o refrão e para entoar, também, o tema que se seguiu - o inevitável "Parabéns a Você".

De mão dada com Barbara, e mantendo o humor que sempre lhe foi característico, Sinatra, que durante toda a vida manteve uma difícil relação com os jornalistas, visitou-nos na sala de imprensa. Agradeceu a nossa presença e com um sorriso nos lábios perguntou: "Já alguma vez tinham estado numa festa de anos tão longa ? Eu não."

Para acompanhar o MAPSHOW é AQUI!

Sem comentários:

Enviar um comentário